segunda-feira, 23 de agosto de 2010

As queimadas no Brasil teve um aumento de 85% em 2010

José Cícero Gomes*

As queimadas no Brasil aumentaram 85% este ano, entre 1º de janeiro e 12 de agosto deste em comparação com o mesmo período do ano passado, segundo estudo do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).

Neste ano, foram registrados 25.999 focos de incêndio, contra 14.019 no mesmo período do ano passado. Entre os Estados com mais queimadas estão Mato Grosso (6.693 focos), Tocantins (4.210), Pará (2.526) e Bahia (2.020). Esses Estados registraram aumento nas queimadas, respectivamente, de 91%, 407%, 132% e 108%. Os dados foram coletados pelo satélite NOAA-15 do instituto.

Foram analisados treze países, entre eles, o Brasil lidera com o número de focos de incêndio, seguido pelo Paraguai, com 3.592 queimadas, Bolívia, com 2.316, e Argentina, com 1.216 focos, em 2010.

As queimadas no Brasil




   Apresentação



O Monitoramento de Queimadas em Tempo Quase-Real do INPE


P e r g u n t a s   f r e q ü e n t e s


1. Por que o INPE monitora queimadas?

O INPE, Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, tem entre seus objetivos desenvolver tecnologias e aplicações com satélites artificiais e produtos relacionados ao tempo e clima, que sejam de utilidade para a sociedade. Monitorar queimadas com satélites, estimar e prever riscos de queima da vegetação e as emissões produzidas são atividades que se enquadram nestes objetivos.


2. Em qual contexto os dados de queimadas do INPE são úteis?

O monitoramento de queimadas em imagens de satélites é particularmente útil para regiões remotas sem meios intensivos de acompanhamento, condição esta que representa a situação geral do País. Para uma área com torres de observação guarnecidas continuamente e mantendo comunicação direta com brigadas de combate de fogo, os dados de satélite têm interesse marginal.


3. Que produtos este sistema de queimadas/incêndios do INPE oferece?

São centenas os produtos gerados e distribuídos diariamente, como p.ex.: coordenadas geográficas dos focos, alertas por e-mail de ocorrências em áreas de interesse especial, risco de fogo, estimativas de concentração de fumaça, etc. Veja a relação dos mais recomendados na página de apresentação geral.


Sugestão: inscreva-se para receber por e-mail os alertas de queimadas em Unidades de Conservação e os relatórios de queimadas, preenchendo o cadastro.

4. Os produtos de Queimadas do INPE têm algum custo?

Não, todos os dados e produtos são divulgados na internet pelo INPE sem custo para o usuário, cerca de três horas após sua geração; é claro que para o usuário há o custo do provedor de internet ou do uso da linha telefônica. Para usuários que necessitam dados com mais rapidez e confiabilidade, e produtos especialmente desenvolvidos, é feito contrato de fornecimento específico com custo a ser definido individualmente.


5. O INPE pode atuar junto a quem faz uma queimada?

Não. O INPE não tem atribuições para fiscalizar, controlar e combater o uso do fogo no País, e nem de punir os infratores. Dentro de suas atribuições o INPE procura gerar o maior número possível de dados relacionados ao uso do fogo na vegetação para que o governo e a sociedade se beneficiem das informações geradas.Veja nossa página de links para mais informações


6. O que o INPE faz com os dados de queimadas?

Os dados gerados são distribuídos de duas maneiras: para o público em geral, todos os dados e produtos ficam disponíveis para acesso livre na internet cerca de três horas após sua geração; para usuários especiais com necessidades operacionais, a distribuição é imediata à sua geração, mediante contrato específico – favor contatar queimadas@cptec.inpe.br


7. Quais satélites são usados e onde são recebidas e processadas as imagens?

São utilizados todos os satélites que possuem sensores óticos operando na faixa termal-média de 4um e que o INPE consegue receber. No presente (julho/2007), são processadas operacionalmente as imagens AVHRR dos satélites polares NOAA-15, NOAA-16, NOAA-17, NOAA-18 e NOAA-19, as imagens MODIS dos satélites polares NASA TERRA e AQUA, as imagens dos satélites geoestacionários GOES-12 e MSG-2. Cada satélite de órbita polar produz pelo menos um conjunto de imagens por dia, e os geoestacioários geram algumas imagens por hora, sendo que no total o INPE processa mais de 100 imagens por dia especificamente para detectar focos de queima da vegetação. Ainda em 2007 espera-se iniciar a recepção das imagens AVHRR do novo satélite MetOp. As recepções são feitas nas estações de Cachoeira Paulista, SP (próximo à divisa com o RJ) e de Cuiabá, MT.



8. O que é o "satélite de referência"?

É o satélite cujos dados diários de focos detectados são usados para compor a série temporal ao longo dos anos e assim permitir a análise de tendências nos números de focos para mesmas regiões em períodos de interesse. De 1999 a 09/agosto/2007 foi utilizado o NOAA-12, e a partir de então o NOAA-15 (Para inúmeros estados a série existe desde 1992).

Mesmo indicando uma fração do número real de focos (e de queimadas e incêndios florestais), por usarem o mesmo método e o mesmo horário de imageamento ao longo dos anos, os resultados do "satélite de referência" permitem analisar as tendências espaciais e temporais dos focos. Ver por exemplo os mapas mensais e as anomalias de focos em:

http://sigma.cptec.inpe.br/queimadas/queimamensaltotal1.html

http://sigma.cptec.inpe.br/queimadas/queimamensaltotal1.html?id=an




9. Por que foram escolhidos como "satélites de referência" os satélites de órbita polar NOAA-12, e depois o NOAA-15?

- seu horário de passagem foi/é estável ao longo dos anos, no final da tarde, mantendo portanto o mesmo padrão de amostragem temporal, e praticamente isento de falsas detecções devido a reflexos do sol em superfícies terrestres;

- o horário de passagem NOAA-15 é praticamente o mesmo (10 minutos de diferença) do satélite de referência anterior usado, o NOAA-12 (que operou até 09/ago/2007), e série temporal pode ser mantida;

- o sensor dos dois satélites, o AVHRR, é basicamente o mesmo, e as diferenças de sensibilidade entre seus sensores foram compensadas de modo a manter contínuo o padrão de detecção;

- ao cessar suas atividades, o NOAA-15 será substituído por outro satélite da NOAA que terá aproximadamente o mesmo horário de imageamento e o mesmo tipo de sensor AVHRR, não havendo previsão de interrupção desta série de satélites operacionais ;

- outros satélites NOAA, ou modificam o horário da passagem com os anos (cerca de 30 minutos mais tarde a cada ano), ou não estão com o canal adequado para detecção de fogo no horário diurno;

- outros satélites de órbita polar, como o AQUA e o TERRA, não terão substitutos ao cessarem suas atividades.



10. Por que não são usados os satélites geoestacionários como "satélites de referência", uma vez que geram mais imagens por dia?

- O satélite geoestacionário europeu (MSG-02 atualmente), por ficar na longitude de zero graus, não cobre a parte oeste do Brasil e da América do Sul, e pelo ângulo acentuado de visada apresenta píxeis (elementos de resolução da imagem) distorcidos, com mais de 07 km de largura na região leste do Brasil.

- O satélite geoestacionário norte-americano (GOES-12 atualmente), muito bem localizado na latitude de 60 graus oeste, só passou a operar em modo regular para a América do Sul em 18/Maio/2010. Anteriormente, outros satélites GOES operaram em latitudes mais a oeste, com mais distorção dos píxeis (elementos de resolução da imagem), e de modo intermitente para a América do Sul. Além disso, com píxeis na melhor das condições tendo 4km por 4km, e a cerca de 30.000 km da superfície, as detecções são mais limitadas.



11. Que tamanho de queimada os satélites detectam?

Para os satélites de órbita polar (NOAAs a 800 km de distância, e TERRA e AQUA a 730 km), trabalhos de validação de campo indicam que uma frente de fogo com cerca de 30 m de extensão por 1 m de largura, ou maior, será detectada. Para os geoestacionários, a 25 mil km de distância, a frente precisa ter o dobro de tamanho para ser localizada.

Entretanto, como o elemento de resolução espacial (“píxel”) do satélite tem 1 km x 1 km ou mais, uma queimada de algumas dezenas de m2 será identificada como tendo pelo menos1 km2. Nas imagens dos satélites geoestacionários, onde o píxel tem 4km x 4km, esta pequena queimada passará a ser indicada por uma área de 16km2 ou mais. Assim, um foco de queima, que aqui é a mesma coisa que um píxel de queima, pode indicar tanto uma pequena queimada assim como várias pequenas queimadas ou uma muito grande no seu interior.

Ou seja, este sistema do INPE detecta a existência de fogo na vegetação sem ter condições de avaliar o tamanho da área que está queimando ou o tipo de vegetação afetada. Em casos com muitos píxeis de queima juntos, e com a presença de uma nuvem de fumaça grande, pode-se inferir que a queimada terá a dimensão dos píxeis de queima detectados.

A estimativa da área queimada é feita quinzenalmente por um outro sistema que está fase final de testes e que será incluído nestas páginas durante 2007.


12. Cada foco corresponde a uma Queimada?

A relação foco x queimada não é direta nas imagens de satélite. Um foco indica a existência de fogo em um elemento de resolução da imagem (píxel), que varia de 1 km x 1 km até 5 km x 4 km. Neste píxel pode haver uma ou várias queimadas distintas que a indicação será de um único foco. E se uma queimada for muito extensa, ela será detectada em alguns píxeis vizinhos, ou seja, vários focos estarão associados a uma única grande queimada.

Ainda, é comum uma mesma queimada ser detectada por vários satélites. Portanto, os mapas e tabelas que apresentam todos os focos de todos os satélites sempre terão algumas repetições. Adicionalmente, em muitos casos, pela variação natural do tamanho dos píxeis entre os vários satélites, uma mesma queimada poderá ser indicada em locais com distância de alguns km conforme o satélite que a detectou.

Este sistema de Queimadas do INPE detecta a ocorrência de fogo, dado por si só extremamente importante e válido, e necessário para milhares de usuários deste sistema do INPE. Detalhes precisos do que está queimando e quanto queimou são informações impossíveis de se obter com os sensores atuais.

Por último, considerando o modo regular de detecção e utilizando-se um único satélite como referência pode-se constatar tendências espaciais e temporais nas ocorrências de fogo.


13. Quais queimadas não são detectadas? (Por que a queimada que eu vi não foi detectada?)

As seguintes condições impedem ou prejudicam muito a detecção das queimadas:



Frentes de fogo com menos de 30 m;

Fogo apenas no chão de uma floresta densa, sem afetar a copa das árvores;

Nuvens cobrindo a região (atenção - nuvens de fumaça não atrapalham!)

Queimada de pequena duração, ocorrendo entre as imagens disponíveis;

Fogo em uma encosta de montanha, enquanto que o satélite só observou o outro lado.

Imprecisão na localização do foco de queima, que no melhor caso é de cerca de 1 km, mas podendo chegar a 6 km.


14. Quando os dados de queimadas das imagens de satélites são atualizados?

Para os dados apresentados nestas páginas internet, a atualização ocorre nos seguintes horários: 04h30min, 10h30min, 13h30min, 16h30min, 19h30min, 21h30min e 23h30min (hora de Brasília).

Os emails de alerta informando focos detectados em áreas de monitoramento especial, como Unidades de Conservação, são enviados 6 vezes ao dia, ou em forma de resumo diário às 23h30min (hora de Brasília) conforme a definição de cada usuário. Os relatórios em formato pdf enviados por email contendo os produtos escolhidos por cada usuário são compostos e enviados durante a madrugada. Os mapas de risco de fogo são atualizados em torno da meia-noite e os mapas de concentração de fumaça são renovados de três em três horas. A imagem mostrando as nuvens é sempre a mais recente, com no máximo ½ hora de atraso.

Para os usuários especiais que mantêm convênio ou contrato com o INPE, as coordenadas dos focos detectados são liberadas para acesso ftp imediatamente após seu recebimento e processamento.


15. Qual o princípio físico da detecção de queimadas?

Um material em chamas emite energia principalmente na faixa termal-média de 3,7um a 4.1um do espectro ótico. Utilizam-se as imagens que tenham esta faixa característica e nelas selecionam-se os píxeis (elementos de resolução) com maior temperatura, em geral saturando o sensor. Para mais detalhes abra este documento.


16. Qual o algoritmo (método) usado para detectar uma queimada?

Cada tipo de sensor possui seu próprio algoritmo. Veja a descrição individual para o método AVHRR, método MODIS, e método Imager.


17. Qual o erro na localização dos focos de queimadas apresentados?

Trabalhos de validação indicam que o erro na média é ~400 m, com desvio padrão de ~3 km; cerca de 80% dos focos estão em um raio de 01 km das coordenadas indicadas.


18a. Como gerar dados para fazer comparações de queimadas ao longo dos meses e anos?

A primeira possibilidade para obter apenas as quantidades de focos, é por meio da opção “Tabelas e Gráficos”. Selecione o "satélite referência" para comparações ao longo dos anos. Se o interesse for o total de ocorrências, escolha "todos" (opção não válida para comparações temporais). Ver também a pergunta 18b a seguir.


18b. Como gerar dados para fazer comparações de queimadas ao longo dos meses e anos?

Além da primeira opção (pergunta 15a acima) existe a opção pelo “Banco de Dados de Queimadas”, que também permite ver os focos em um mapa e obter as coordenadas dos focos.



Entre na página internet do Banco de Dados de Queimadas,         http://www.dpi.inpe.br/proarco/bdqueimadas/

Nas opções da margem esquerda, nas duas primeiras janelinhas selecione o período de interesse. Não ultrapasse períodos de um ano.

Nas opções da margem esquerda, na terceira janelinha selecione "todos" para obter totais por estado, ou selecione apenas um estado para obter dados do município deste estado.

Nas opções da margem esquerda, na quarta janelinha selecione o "satélite referência" para comparações ao longo dos anos. Se o interesse for o total de ocorrências, escolha "todos" (opção não válida para comparações temporais).

Aperte o botão "Histograma" na linha cor salmão, um pouco abaixo, e aguarde a apresentação dos dados.

Para ver os focos do período selecionado, pressione o botão Consultar logo abaixo.

Para baixar os dados dos focos selecionados, use a opção "Exportar Focos" logo abaixo da moldura do mapa.




Este Banco de Dados também permite que vc baixe as coordenadas dos focos para uso em seu próprio sistema de informações geográficas, em planilhas Excel ou no padrão das imagens e mapas Google.


19. É possível transferir e usar em um SIG qualquer os focos detectados pelo INPE?

Sim, e sem nenhum custo. As coordenadas geográficas dos focos atuais e do passado, bem como dados adicionaisestão disponíveis em formato texto (ASCII), "shape" (.shp) padrão Google (.kmz), tanto para os focos em geral no “Banco de Dados de Queimadas” como para os detectados apenas nas Unidades de Conservação. Siga as instruções do item 15b logo acima.


20. Como ver os focos de queimadas diretamente no GoogleEarth?

Muito simples: é só entrar na nossa página específica GoogleEarth que faz esta visualização, e que também permite extrair as coordenadas geográficas dos focos no padrão .kml e .kmz.


21. Desde quando o INPE faz este trabalho de detecção de queimadas?

Este sistema vem evoluindo continuamente desde 1987. Ele foi particularmente aperfeiçoado a partir de 1998 mediante apoio do programa nacional Proarco no Ibama criado para controlar as queimadas e o desmatamento no arco do desmatamento da Amazônia com recursos do Ministério do Meio Ambiente. As principais modificações do sistema de queimadas do INPE estão indicadas na tabela deste link.


22. Quem paga este trabalho de monitorar queimadas? Quanto ele custa?

O custo é pago quase que integralmente com recursos do governo federal. Atualmente, a Ação Queimadas No. 2063 , do Plano PluriAnual 0503 do Ministério do Meio Ambiente, transfere cerca de R$ 1,1 milhão/ano ao INPE para a operação e aperfeiçoamento deste sistema, sendo ~R$ 0,9 milhão na categoria Custeio e ~R $0,2 milhão em Capital. Quase todo Custeio é gasto no pagamento de integrantes da equipe, que não são funcionários públicos; o valor de Capital é para compra de equipamentos de recepção e processamento de imagens dos satélites usados no monitoramento. O INPE contribui com cerca de duas vezes o valor da Ação quando considerados os funcionários de carreira, o uso de equipamentos como estações de recepção, supercomputador, equipes de suporte, pesquisadores, etc...

 

23. Quantas pessoas trabalham para gerar os produtos de queimadas?

A equipe fixa tem um pesquisador com nível de doutorado que a coordena. Os produtos de satélites geoestacionários, de risco de fogo, de área queimada, e do Banco de Dados, cada um tem um técnico com MSc dedicado. Um analista com MSc cuida das melhorias no programa de extração de focos nas imagens NOAA, e outro analista mantém as páginas internet. Uma analista e um técnico estão desenvolvendo e implementando a página de queimadas no novo sistema Sigma. Vários engneheiros, técnicos e operadores controlam as estações receptoras e os computadores de processamento. Para mais detalhes, veja a relação da equipe.


24. Como é obtido o Risco de Queima da vegetação? E as previsões deste risco?

O risco é calculado essencialmente pelo histórico da precipitação nos últimos 120 dias. Dados da temperatura máxima do ar e da umidade relativa do ar mínima, bem como o tipo de vegetação e a ocorrência de focos são também considerados. Veja a descrição detalhada do método no documento deste link, e também as modificações do risco que ocorreram no passado.


25. Como é calculada a concentração e a dispersão das emissões das queimadas?

As emissões são obtidas cruzando-se a ocorrência dos focos detectados por satélites com o tipo de vegetação. As concentrações e a dispersão são produzidas a partir das condições meteorológicas presentes e futuras, por meio do modelo CATT-BRAMS no CPTEC, conforme descrito no seguinte documento.


26. Qual a tecnologia de informática usada na apresentação dos focos e mapas nesta página?

Para a apresentação dos mapas foram inplementadas funções em Java utilizando o MapServer , que é um software de desenvolvimento, de código-fonte aberto, para a elaboração de aplicações espaciais na internet.


27. Qual a tecnologia de informática usada no BDQueimadas?

Os Bancos de Dados de Queimadas em Geral, das Unidades de Conservação e dos Municípios Críticos, é gerenciado pelo SGBD MySQL e sua consulta/visualização e´ feita usando a tecnologia TerraWeb/TerraLib desenvolvida pela Divisão de Processamento de Imagens do INPE, DPI.


28. Onde encontrar informações para um trabalho escolar sobre queimadas?

Além das inúmeras páginas com textos, figuras e dados deste sistema do INPE, consultar a página internet com mais de 400 links e centenas de fotos de satélites sobre este tema.


29. Existem publicações técnicas sobre este monitoramento de queimadas?

Dezenas de trabalhos envolvendo este sistema do INPE já foram publicados – consultar a seguinte página internet para a relação das publicações e seu acesso em formato pdf.


30. O que fazer para receber alertas de focos em uma área de meu interesse.

Basta que vc nos envie os limites desta área em arquivo digital tipo “shapefile” (.shp) explicando a razão da necessidade do monitoramento em um e-mail dirigido a queimadas@cptec.inpe.br


31. A quem recorrer para denunciar queimadas?

São várias as opções, como: Bombeiros, Secretaria Estadual do Meio Ambiente, IBAMA, Prefeitura, e Instituto Florestal. Para maiores detalhes, consulte a seguinte página internet que preparamos.


32. Existe legislação referente a queimadas?

As queimadas são em princípio proibidas pelas legislações federal, estaduais e municipais, e para facilitar sua pesquisa preparamos a seguinte página com links de legislação sobre queimadas.


33. Por que se queima tanto?

No Brasil, assim como na América do Sul, a quase totalidade das queimadas é causada pelo Homem, por razões muito variadas: limpeza de pastos, preparo de plantios, desmatamentos, colheita manual de cana-de-açúcar, vandalismo, balões de São João, disputas fundiárias, protestos sociais, e etc. Com mais de 300.000 queimadas e nuvens de fumaça cobrindo milhões de km2 detectadas anualmente através de satélites, o País ocupa o 5º lugar entre os países poluidores, e também devastando anualmente em média cerca de 15 mil km2/ano de florestas naturais.

José Bonifácio de Andrada e Silva, em ~1820, resumiu as razões para as nossas queimadas e desmatamentos: “ignorância, associada à preguiça e má fé”. Nos dias de hoje, em que todos sabem dos efeitos negativos das queimadas, temos apenas de inverter a ordem dos motivos para: má fé, associada à preguiça e ignorância.


34. Quais são os efeitos das queimadas?

No contexto local, as queimadas destroem a fauna e flora, empobrecem o solo, reduzem a penetração de água no subsolo, e em muitos casos causam mortes, acidentes e perda de propriedades. No âmbito regional, causam poluição atmosférica com prejuízos à saúde de milhões de pessoas e à aviação e transportes; elas também alteram, ou mesmo destroem ecossistemas. E do ponto de vista global, as queimadas são associadas com modificações da composição química da atmosfera, e mesmo do clima do planeta; neste último contexto, as maiores contribuições do Brasil provêem das queimadas. É também importante lembrar que as queimadas são parte integrante e necessária de alguns ecossistemas onde ocorrem naturalmente devido a raios, como no Cerrado, mas apenas umas duas vezes por década nas estações de transição, e não tão frequentemente e no período de estiagem como se constata. Veja nossa página de "links" para centenas de páginas Internet relacionadas a queimadas no Brasil.

 

35. As queimadas no Brasil estão aumentando ou diminuindo?

Nos últimos anos, 2004 foi o que apresentou maior número de queimadas,
observando-se redução progressiva em 2005 e 2006. 2006 foi marcado pela redução do número de detecções feitas com satélites, principalmente devido à diminuição do desmatamento na Amazônia. Veja o gráfico que preparamos para melhor esclarecimento sobre este tema.


36. O que foi desenvolvido no passado e o que está sendo feito para o futuro neste sistema do INPE?

Este sistema de Queimadas vem evoluindo continuamente desde a década de 1980 em função da relevância ambiental do tema, e do avanço das tecnologias de satélites, geoprocessamento e informática. As principais etapas do passado estão relacionadas nesta tabela, e os planos futuros neste outro link.


37. Como fazer para referenciar o uso dos dados de queimadas do INPE?

Basta citar a página internet deste sistema, http://www.cptec.inpe.br/queimadas


38. Como posso ajudar o INPE neste trabalho para monitorar as queimadas?

De várias maneiras. Uma delas é nos informar quando vc confirmar no nosso sistema uma queimada que observou – ou então que não a encontrou na nossa base de dados – pois assim teremos condições de melhorar nosso método de monitoramento. Outra é mandando seu trabalho ou texto sobre queimadas para que o coloquemos na nossa página de recomendações e assim beneficiar outras pessoas preocupadas com esta prática lastimável que é o uso descontrolado e desnecessário do fogo na vegetação.



39. Por que houve redução de focos nas imagens, a partir de 09/Agosto/2007?

Em 09/agosto/2007, após 16 anos de operação contínua, foi desativado o satélite NOAA-12, cujas imagens no final da tarde usávamos para fazer as comparações dos números de queimadas entre anos diferentes.

A partir desta data passamos a usar o NOAA-15, cujo sensor AVHRR tem características diferentes das do NOAA-12, o que causou redução no número de detecções. Esta redução não está relacionada com qualquer variação real nas ocorrências de focos.

Estamos fazendo reprocessamento das imagens NOAA-15 desde

09/agosto para tornar compatíveis os dois conjuntos de dados. Até que esta etapa seja concluída, não faz sentido compararmos os dados NOAA-15 de 2007 com os anteriores do NOAA-12.

Adendo em 02/Outubro/2008.

A partir de 01/outubro/2008 houve alteração no modo de processamento
automático das imagens AVHRR/NOAA-15 utilizadas na detecção operacional
de queimadas feita pelo INPE.

Como consequência, desta data em diante o número de focos de queima de
vegetação detectados por imagem aumentou significativamente, em pelo
menos cerca de duas vezes com relação aos totais detectados anteriormente.
Apesar de mais numerosas, todas as detecções de focos feitas nas imagens
AVHRR/NOAA-15 continuam, em princípio, correspondendo a eventos reais.


Esta alteração em 01/outubro/2008 decorreu da necessidade de tornar
os números de focos detectados nas imagens NOAA-15 compatíveis com a
série das imagens do satélite de referência de queimadas anterior, o
NOAA-12, quando da sua desativação em 09/agosto/2007 pela NOAA/USA após
16 anos de uso contínuo.

Devido a limitações nas antenas do satélite NOAA-15, suas imagens
apresentavam (e apresentam) qualidade inferior às do NOAA-12. Neste
contexto, o algoritmo de detecção automática de focos usado até
30/setembro/2008 com o NOAA-15 tinha filtros mais restritos para evitar
que ruídos nas imagens fossem classificados como focos de queima. Como
consequência, o algoritmo também desprezava muitos casos de focos reais,
cuja característica era semelhante à dos ruídos.

Recentemente, foi concluído no INPE um aplicativo que permite a remoção
das linhas com ruídos nas imagens, mediante intervenção visual e manual
dos operadores do sistema de queimadas. Com esta atuação dos operadores,
os filtros do algoritmo de detecção automática foram modificados para
valores menos restritivos, com resultados de detecção equivalentes ao
que havia com as imagens do NOAA-12 até 09/Agosto/2007.


O reprocessamento das imagens AVHRR/NOAA-15 para o período de
09/agosto/2007 a 30/Setembro/2008 foi iniciado no INPE, com o objetivo
de melhorar a série temporal do "satélite de referência", que permite
estudos e comparações da evolução do número de focos de queima de
vegetação ao longo dos anos.

As alterações do reprocessamento serção informadas nas mesmas páginas
internet onde já consta desde 09/agosto/2007 o aviso da limitação das
imagens NOAA-15:

1) Tabelas e Gráficos Atuais, http://sigma.cptec.inpe.br/queimada/tabelas.inicial.logic?espacial=&satelite=todos&temporal=dia&pais=Brasil


2) Perguntas Frequentes (Verificar a no. 36),
http://sigma.cptec.inpe.br/queimadas/perguntas.html











© 2007 INPE/CPTEC/DSA.




























http://sigma.cptec.inpe.br/queimadas/perguntas.html

domingo, 22 de agosto de 2010

SOS Amazônia




Amazônia perde 29 áreas protegidas entre 2008 e 2009

CLAUDIO ANGELO
DE BRASÍLIA

Por pressão de madeireiros, fazendeiros, mineradores ou do próprio governo, 29 áreas protegidas na Amazônia foram reduzidas ou extintas entre 2008 e 2009.

O total de florestas perdidas no processo foi de 49 mil km2, quase um Rio Grande do Norte. As reduções ocorreram sem consultas públicas ou estudos técnicos, como manda a lei.

Os dados são de um estudo inédito do Imazon (Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia), a ser publicado amanhã na internet (www.imazon.org.br).

Os pesquisadores Elis Araújo e Paulo Barreto levantaram 37 iniciativas entre novembro de 2008 a novembro de 2009 para reduzir 48 unidades de conservação ou terras indígenas na Amazônia.

Até julho deste ano, 23 propostas haviam sido concluídas --93% delas resultaram em perda de área na unidade de conservação.

O Estado de Rondônia, o mais desmatado da Amazônia, é o campeão: reduziu duas unidades de conservação estaduais e extinguiu dez, além de ter negociado com o governo a redução da Floresta Nacional Bom Futuro, unidade federal.

"Como eles perderam um terço da cobertura florestal, o que sobrou são áreas protegidas", diz Araújo. "A indústria madeireira lá ainda é forte. As unidades de conservação sofrem muita pressão."


César Araújo/Folhapress
Caminhão deixa área de desmatamento em Rondônia
Caminhão deixa área de desmatamento em Rondônia; área desmatada equivale ao Rio Grande do Norte

O instrumento usado pelo governo do Estado para acabar com as áreas protegidas foi próprio zoneamento ecológico-econômico do Estado, lei que disciplina a ocupação das terras. As unidades de conservação nas zonas de intensificação da produção foram consideradas extintas.

A Folha procurou a secretaria do Meio Ambiente de Rondônia por toda a sexta-feira, mas não foi atendida.

Outro caso foi o do Parque Estadual do Xingu, em Mato Grosso. Ele foi reduzido com o apoio da população de Vitória do Xingu para dar lugar a um empreendimento agropecuário, que não veio.

"E a cidade ainda perdeu o repasse do Arpa [programa federal que dá dinheiro a regiões com unidades de conservação]", diz Araújo.

fonte http://www1.folha.uol.com.br/ambiente/786956-amazonia-perde-29-areas-protegidas-entre-2008-e-2009.shtml

quarta-feira, 7 de julho de 2010

RETROCESSO NA LEGISLAÇÃO AMBIENTAL BRASILEIRA


Ponto para os ruralistas



Manaira Medeiros


As previsões infelizmente se confirmaram. A aprovação do parecer sobre o Código Florestal do relator Aldo Rebelo (PCdoB), nessa terça-feira (6), na comissão especial sobre o tema na Câmara dos Deputados, é um presente aos ruralistas. O placar de 13 a 5 (Psol, PV e parte do PT) também consolida o que era esperado. Com maioria composta por parlamentares da bancada da motosserra, não é surpresa alguma que as mudanças sugeridas por Rebelo tenham sido prontamente aprovadas, com poucas vozes clamando contra. Vitória do setor agropecuário e retrocesso ambiental.

Assim como todo o processo que marcou as discussões a respeito das mudanças da legislação ambiental, com muitos embates, a aprovação do parecer seguiu no mesmo clima. De um lado, os ruralistas. De outro, os ambientalistas. E nada de consenso.

A ânsia de Rebelo em flexibilizar o Código foi tanta, que conseguiu não agradar nem mesmo ao setor que trabalhou para beneficiar os grandes produtores rurais. Para tentar amenizar, recuou em alguns pontos e mudou o teor do relatório. Mas, do ponto de vista ambiental, os estragos continuaram na mesma proporção.

O documento anistia quem já desmatou e cometeu crimes contra o meio ambiente nas últimas décadas, além de permitir a drástica redução da reserva legal, ao liberar mais de 90% dos proprietários de terras do País da exigência de recuperar a vegetação nativa em parte de cada área em questão. Como resultado, ainda mais desmatamento.

A pressa na aprovação do relatório antes do período eleitoral, também em sentido contrário ao que defendem os ambientalistas, tem intenção clara: permitir o uso político do Código Florestal nas campanhas deste ano.

Portanto, até que o texto final passe pelo plenário da Câmara dos Deputados e, depois, do Senado – o que não acontecerá tão cedo –, onde pressões e negociatas não irão faltar, candidatos da bancada ruralista certamente irão deitar e rolar, valendo-se da legislação como moeda de troca para conseguir votos.

O sinal verde para a destruição merece vaias. E muitas.

Florestas à venda.


Manaira Medeiros é jornalista e especialista em Educação e Gestão Ambiental
Fale com a autora:
manaira@seculodiario.com

sábado, 5 de junho de 2010

Não há o que comemorar neste dia mundial do meio ambiente.





“Muitas espécies. Um planeta. Um futuro”. Esse é o slogan que marca o Dia Mundial do Meio Ambiente, que é comemorado em 5 de junho. A preocupação com a vida selvagem tem como objetivo reforçar a reflexão sobre o Ano Internacional da Biodiversidade, celebrado em 2010.

Um acordo assinado numa conferência mundial em Johannesburgo capital da África do Sul em 2002 previa o comprometimento das principais nações do planeta em reduzir em 90% o número de espécies ameaçadas de extinção em 8 anos. Nenhum país conseguiu cumprir a meta – atualmente milhares de espécies estão ameaçadas de extinção – quase 300 delas apenas no Brasil. Contribuem para este quadro deplorável a exploração comercial, expansão populacional desordenada e desastres ambientais – o vazamento de petróleo no Golfo do México, fora de controle desde abril, é a maior catástrofe ambiental da história, com a morte de milhões de animais, entre aves e espécies marinhas em águas dos Estados Unidos.

O Dia Mundial do Meio Ambiente tem suas ações concentradas em Ruanda, na África, país que luta para preservar sua excepcional fauna da extinção, que conta com 50 espécies ameaçadas. No mundo todo serão realizados eventos, concertos e palestras para celebrar a data. Em São Paulo, o Parque Villa Lobos e o Jardim Botânico estão sendo realizadas programações especiais desde da manhã de hoje e se estenderá até o fim do dia.

O dia Mundial do Meio Ambiente foi criado pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 1972, durante a Conferência Mundial do Clima em Estocolmo, para estimular ações mundiais para preservação da fauna e da flora. Por falar na ONU o que ela está fazendo para pressionar os EUA para solucionar seus crimes ecológicos. A morte de varias espécies marinhas já dura dias. Se a medidas tomadas até agora pela British Petroleum funcionam, só sabemos mais tarde. Nem todo o dinheiro ganho pela BP pagaria as percas para os biomas marinhos e para a população costeira que depende do mar para viver. O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, disse semana passada que o vazamento contínuo é "tão enfurecedor quanto doloroso". Obama afirmou esta semana que vai a segurar que a população seja ressarcida de prejuízos. Mas o meio ambiente que irá ressarcir de sua percas vitais?

Não se ver crítica ou comentários duros na mídia estadunidense sobre o vazamento de óleo da plataforma Deepwatar Horizon danificada da BP que afundou a 47 dias nas águas profundas do Golfo do México produzindo um desastre de grande impacto ambiental. O que se ver e ouvir é a impressa marrom tentando amenizar a tragédia. O poço está vazando 42 mil litros de óleo por dia. O que é visível e a cobertura deste desastre por parte das empresas de jornais como o New York Time se mostram amigáveis dizendo: "Não é o pior derrame na história E.U. A..." mencionando o desastre Exxon Valdez o que resultou em 10,8 milhões de galões de óleo sendo derramado. O Times aponta que teria que continuar escapando por 262 dias para igualar a esse montante. Mas há controvérsias, afirmou Carol Browner "Isso quer dizer que há mais petróleo vazando no golfo do México que em qualquer outro momento de nossa história. E isso significa que há mais petróleo que durante a mancha negra provocada pelo Exxon Valdez no Alasca (1989)", Browner é conselheira do presidente americano Barack Obama para temas ambientais.

A quantidade de óleo derramado até agora é duas a três vezes maior do que no desastre do Exxon Valdez. Washington já tinha sido advertida por Sylvia Earle[1]: "Em nome da energia barata, nós estamos destruindo os oceanos e do planeta Terra" e reitera em seu grito por socorro aos políticos estadunidenses que receberam doações substanciais das companhias petrolíferas: "O Golfo não é um esgoto na indústria petroquímica, ou um maná inesgotável para a pesca. É o Mediterrâneo norte-americano, um laboratório vivo". E de forma corajosa convidou tais políticos, para viajarem com ela para ver o mar profundo do Golfo, o "santuário" do Jardim das Flores em águas Texanas e para ver os recifes de coral de Chaves na Florida. Earle se deparou com a surpresa de alguns e com a ignorância de muitos, mas ela vez questão de lembrar-los: "O mal que causamos aos oceanos é um dano que causamos a nós mesmos ..."

Por quanto tempo mais a natureza irá suportar as agressões da humanidade. Vamos salvar o nosso planeta.


[1] EARLE, Sylvia. Oceanográfica estadunidense. Em 1966, recebeu seu Ph.D. de Duke. Sua dissertação foi "Phaeophyta do golfo de México oriental" Nunca antes tinha um cientista marinho feito tal um longo e detalhado estudo em primeira mão de plantas aquáticas. Desde então, ela fez um projeto ao longo da vida de catalogar todas as espécies de plantas que podem ser encontradas no Golfo do México. Com ela teve conquistas notáveis em sua carreira levou primeiro a Harvard, como bolsista de investigação, em seguida, para a diretoria residente do Cabo Haze Marine Laboratory, íon Florida.

sábado, 24 de abril de 2010

Carta da Terra



A Carta da Terra -Versão Integral

PREÂMBULO

Estamos diante de um momento crítico na história da Terra, numa época em que a humanidade deve escolher o seu futuro. À medida que o mundo torna-se cada vez mais interdependente e frágil, o futuro enfrenta, ao mesmo tempo, grandes perigos e grandes promessas. Para seguir adiante, devemos reconhecer que no meio da uma magnífica diversidade de culturas e formas de vida, somos uma família humana e uma comunidade terrestre com um destino comum. Devemos somar forças para gerar uma sociedade sustentável global baseada no respeito pela natureza, nos direitos humanos universais, na justiça econômica e numa cultura da paz. Para chegar a este propósito, é imperativo que, nós, os povos da Terra, declaremos nossa responsabilidade uns para com os outros, com a grande comunidade da vida, e com as futuras gerações.

Terra, Nosso Lar

A humanidade é parte de um vasto universo em evolução. A Terra, nosso lar, está viva com uma comunidade de vida única. As forças da natureza fazem da existência uma aventura exigente e incerta, mas a Terra providenciou as condições essenciais para a evolução da vida. A capacidade de recuperação da comunidade da vida e o bem-estar da humanidade dependem da preservação de uma biosfera saudável com todos seus sistemas ecológicos, uma rica variedade de plantas e animais, solos férteis, águas puras e ar limpo. O meio ambiente global com seus recursos finitos é uma preocupação comum de todas as pessoas. A proteção da vitalidade, diversidade e beleza da Terra é um dever sagrado.

A Situação Global

Os padrões dominantes de produção e consumo estão causando devastação ambiental, redução dos recursos e uma massiva extinção de espécies. Comunidades estão sendo arruinadas. Os benefícios do desenvolvimento não estão sendo divididos eqüitativamente e o fosso entre ricos e pobres está aumentando. A injustiça, a pobreza, a ignorância e os conflitos violentos têm aumentado e é causa de grande sofrimento. O crescimento sem precedentes da população humana tem sobrecarregado os sistemas ecológico e social. As bases da segurança global estão ameaçadas. Essas tendências são perigosas, mas não inevitáveis.

Desafios Para o Futuro

A escolha é nossa: formar uma aliança global para cuidar da Terra e uns dos outros, ou arriscar a nossa destruição e a da diversidade da vida. São necessárias mudanças fundamentais dos nossos valores, instituições e modos de vida. Devemos entender que quando as necessidades básicas forem atingidas, o desenvolvimento humano é primariamente ser mais, não, ter mais. Temos o conhecimento e a tecnologia necessários para abastecer a todos e reduzir nossos impactos ao meio ambiente. O surgimento de uma sociedade civil global está criando novas oportunidades para construir um mundo democrático e humano. Nossos desafios, ambientais, econômicos, políticos, sociais e espirituais estão interligados, e juntos podemos forjar soluções includentes.

Responsabilidade Universal

Para realizar estas aspirações devemos decidir viver com um sentido de responsabilidade universal, identificando-nos com toda a comunidade terrestre bem como com nossa comunidade local. Somos ao mesmo tempo cidadãos de nações diferentes e de um mundo no qual, a dimensão local e global estão ligadas. Cada um comparte responsabilidade pelo presente e pelo futuro, pelo bem estar da família humana e do grande mundo dos seres vivos. O espírito de solidariedade humana e de parentesco com toda a vida é fortalecido quando vivemos com reverência o mistério da existência, com gratidão pelo presente da vida, e com humildade considerando o lugar que ocupa o ser humano na natureza.

Necessitamos com urgência de uma visão de valores básicos para proporcionar um fundamento ético à emergente comunidade mundial. Portanto, juntos na esperança, afirmamos os seguintes princípios, todos interdependentes, visando um modo de vida sustentável como critério comum, através dos quais a conduta de todos os indivíduos, organizações, empresas de negócios, governos, e instituições transnacionais será guiada e avaliada.

PRINCÍPIOS

I. RESPEITAR E CUIDAR DA COMUNIDADE DE VIDA

1. Respeitar a Terra e a vida em toda sua diversidade.

a. Reconhecer que todos os seres são interligados e cada forma de vida tem valor, independentemente do uso humano.

b. Afirmar a fé na dignidade inerente de todos os seres humanos e no potencial intelectual, artístico, ético e espiritual da humanidade.

2. Cuidar da comunidade da vida com compreensão, compaixão e amor.

a. Aceitar que com o direito de possuir, administrar e usar os recursos naturais vem o dever de impedir o dano causado ao meio ambiente e de proteger o direito das pessoas.

b. Afirmar que, o aumento da liberdade, dos conhecimentos e do poder comporta responsabilidade na promoção do bem comum.

3. Construir sociedades democráticas que sejam justas, participativas, sustentáveis e pacíficas.

a. Assegurar que as comunidades em todos níveis garantam os direitos humanos e as liberdades fundamentais e dar a cada a oportunidade de realizar seu pleno potencial.

b. Promover a justiça econômica propiciando a todos a consecução de uma subsistência significativa e segura, que seja ecologicamente responsável.

4. Garantir a generosidade e a beleza da Terra para as atuais e as futuras gerações.

a. Reconhecer que a liberdade de ação de cada geração é condicionada pelas necessidades das gerações futuras.

b. Transmitir às futuras gerações valores, tradições e instituições que apóiem, a longo termo, a prosperidade das comunidades humanas e ecológicas da Terra.

Para poder cumprir estes quatro extensos compromissos, é necessário:

II. INTEGRIDADE ECOLÓGICA

5. Proteger e restaurar a integridade dos sistemas ecológicos da Terra, com especial preocupação pela diversidade biológica e pelos processos naturais que sustentam a vida.

a. Adotar planos e regulações de desenvolvimento sustentável em todos os níveis que façam com que a conservação ambiental e a reabilitação sejam parte integral de todas as iniciativas de desenvolvimento.

b. Estabelecer e proteger as reservas com uma natureza viável e da biosfera, incluindo terras selvagens e áreas marinhas, para proteger os sistemas de sustento à vida da Terra, manter a biodiversidade e preservar nossa herança natural.

c. Promover a recuperação de espécies e ecossistemas em perigo.

d. Controlar e erradicar organismos não-nativos ou modificados geneticamente que causem dano às espécies nativas, ao meio ambiente, e prevenir a introdução desses organismos daninhos.

e. Manejar o uso de recursos renováveis como a água, solo, produtos florestais e a vida marinha com maneiras que não excedam as taxas de regeneração e que protejam a sanidade dos ecossistemas.

f. Manejar a extração e uso de recursos não renováveis como minerais e combustíveis fósseis de forma que diminua a exaustão e não cause sério dano ambiental.

6. Prevenir o dano ao ambiente como o melhor método de proteção ambiental e quando o conhecimento for limitado, tomar o caminho da prudência.

a. Orientar ações para evitar a possibilidade de sérios ou irreversíveis danos ambientais mesmo quando a informação científica seja incompleta ou não conclusiva.

b. Impor o ônus da prova àqueles que afirmam que a atividade proposta não causará dano significativo e fazer com que os grupos sejam responsabilizados pelo dano ambiental.

c. Garantir que a decisão a ser tomada se oriente pelas conseqüências humanas globais, cumulativas, de longo termo, indiretas e de longa distância.

d. Impedir a poluição de qualquer parte do meio ambiente e não permitir o aumento de substâncias radioativas, tóxicas ou outras substâncias perigosas.

e. Evitar que atividades militares causem dano ao meio ambiente.

7. Adotar padrões de produção, consumo e reprodução que protejam as capacidades regenerativas da Terra, os direitos humanos e o bem-estar comunitário.

a. Reduzir, reutilizar e reciclar materiais usados nos sistemas de produção e consumo e garantir que os resíduos possam ser assimilados pelos sistemas ecológicos.

b. Atuar com restrição e eficiência no uso de energia e recorrer cada vez mais aos recursos energéticos renováveis como a energia solar e do vento.

c. Promover o desenvolvimento, a adoção e a transferência eqüitativa de tecnologias ambientais saudáveis.

d. Incluir totalmente os custos ambientais e sociais de bens e serviços no preço de venda e habilitar aos consumidores identificar produtos que satisfaçam as mais altas normas sociais e ambientais.

e. Garantir acesso universal ao cuidado da saúde que fomente a saúde reprodutiva e a reprodução responsável.

f. Adotar estilos de vida que acentuem a qualidade de vida e o suficiente material num mundo finito.

8. Avançar o estudo da sustentabilidade ecológica e promover a troca aberta e uma ampla aplicação do conhecimento adquirido.

a. Apoiar a cooperação científica e técnica internacional relacionada à sustentabilidade, com especial atenção às necessidades das nações em desenvolvimento.

b. Reconhecer e preservar os conhecimentos tradicionais e a sabedoria espiritual em todas as culturas que contribuem para a proteção ambiental e o bem-estar humano.

c. Garantir que informações de vital importância para a saúde humana e para a proteção ambiental, incluindo informação genética, estejam disponíveis ao domínio público.

III. JUSTIÇA SOCIAL E ECONÔMICA

9. Erradicar a pobreza como um imperativo ético, social, econômico e ambiental.

a. Garantir o direito à água potável, ao ar puro, à segurança alimentar, aos solos não contaminados, ao abrigo e saneamento seguro, distribuindo os recursos nacionais e internacionais requeridos.

b. Prover cada ser humano de educação e recursos para assegurar uma subsistência sustentável, e dar seguro social [médico] e segurança coletiva a todos aqueles que não são capazes de manter-se a si mesmos.

c. Reconhecer ao ignorado, proteger o vulnerável, servir àqueles que sofrem, e permitir-lhes desenvolver suas capacidades e alcançar suas aspirações.

10. Garantir que as atividades econômicas e instituições em todos os níveis promovam o desenvolvimento humano de forma eqüitativa e sustentável.

a. Promover a distribuição eqüitativa da riqueza dentro e entre nações.

b. Incrementar os recursos intelectuais, financeiros, técnicos e sociais das nações em desenvolvimento e aliviar as dívidas internacionais onerosas.

c. Garantir que todas as transações comerciais apóiem o uso de recursos sustentáveis, a proteção ambiental e normas laborais progressistas.

d. Exigir que corporações multinacionais e organizações financeiras internacionais atuem com transparência em benefício do bem comum e responsabilizá-las pelas conseqüências de suas atividades.

11. Afirmar a igualdade e a eqüidade de gênero como pré-requisitos para o desenvolvimento sustentável e assegurar o acesso universal à educação, ao cuidado da saúde e às oportunidades econômicas.

a. Assegurar os direitos humanos das mulheres e das meninas e acabar com toda violência contra elas.

b. Promover a participação ativa das mulheres em todos os aspectos da vida econômica, política, civil, social e cultural como parceiros plenos e paritários, tomadores de decisão, líderes e beneficiários.

c. Fortalecer as famílias e garantir a segurança e a criação amorosa de todos os membros da família.

12. Defender, sem discriminação, os direitos de todas as pessoas a um ambiente natural e social, capaz de assegurar a dignidade humana, a saúde corporal e o bem-estar espiritual, dando especial atenção aos direitos dos povos indígenas e minorias.

a. Eliminar a discriminação em todas suas formas, como as baseadas na raça, cor, gênero, orientação sexual, religião, idioma e origem nacional, étnica ou social.

b. Afirmar o direito dos povos indígenas à sua espiritualidade, conhecimentos, terras e recursos, assim como às suas práticas relacionadas a formas sustentáveis de vida.

c. Honrar e apoiar os jovens das nossas comunidades, habilitando-os para cumprir seu papel essencial na criação de sociedades sustentáveis.

d. Proteger e restaurar lugares notáveis, de significado cultural e espiritual.

IV.DEMOCRACIA, NÃO VIOLÊNCIA E PAZ

13. Fortalecer as instituições democráticas em todos os níveis e proporcionar-lhes transparência e prestação de contas no exercício do governo, a participação inclusiva na tomada de decisões e no acesso à justiça.

a. Defender o direito a todas as pessoas de receber informação clara e oportuna sobre assuntos ambientais e todos os planos de desenvolvimento e atividades que poderiam afetá-las ou nos quais tivessem interesse.

b. Apoiar sociedades locais, regionais e globais e promover a participação significativa de todos os indivíduos e organizações na toma de decisões.

c. Proteger os direitos à liberdade de opinião, de expressão, de assembléia pacífica, de associação e de oposição [ou discordância].

d. Instituir o acesso efetivo e eficiente a procedimentos administrativos e judiciais independentes, incluindo mediação e retificação dos danos ambientais e da ameaça de tais danos.

e. Eliminar a corrupção em todas as instituições públicas e privadas.

f. Fortalecer as comunidades locais, habilitando-as a cuidar dos seus próprios ambientes e designar responsabilidades ambientais a nível governamental onde possam ser cumpridas mais efetivamente.

14. Integrar na educação formal e aprendizagem ao longo da vida, os conhecimentos, valores e habilidades necessárias para um modo de vida sustentável.

a. Oferecer a todos, especialmente a crianças e a jovens, oportunidades educativas que possibilite contribuir ativamente para o desenvolvimento sustentável.

b. Promover a contribuição das artes e humanidades assim como das ciências na educação sustentável.

c. Intensificar o papel dos meios de comunicação de massas no sentido de aumentar a conscientização dos desafios ecológicos e sociais.

d. Reconhecer a importância da educação moral e espiritual para uma subsistência sustentável.

15. Tratar todos os seres vivos com respeito e consideração.

a. Impedir crueldades aos animais mantidos em sociedades humanas e diminuir seus sofrimentos.

b. Proteger animais selvagens de métodos de caça, armadilhas e pesca que causem sofrimento externo, prolongado o evitável.

16. Promover uma cultura de tolerância, não violência e paz.

a. Estimular e apoiar o entendimento mútuo, a solidariedade e a cooperação entre todas as pessoas, dentro das e entre as nações.

b. Implementar estratégias amplas para prevenir conflitos violentos e usar a colaboração na resolução de problemas para manejar e resolver conflitos ambientais e outras disputas.

c. Desmilitarizar os sistemas de segurança nacional até chegar ao nível de uma postura não-provocativa da defesa e converter os recursos militares em propósitos pacíficos, incluindo restauração ecológica.

d. Eliminar armas nucleares, biológicas e tóxicas e outras armas de destruição em massa.

e. Assegurar que o uso do espaço orbital e cósmico mantenha a proteção ambiental e a paz.

f. Reconhecer que a paz é a plenitude criada por relações corretas consigo mesmo, com outras pessoas, outras culturas, outras vidas, com a Terra e com a totalidade maior da qual somos parte.

O CAMINHO ADIANTE

Como nunca antes na história, o destino comum nos conclama a buscar um novo começo. Tal renovação é a promessa dos princípios da Carta da Terra. Para cumprir esta promessa, temos que nos comprometer a adotar e promover os valores e objetivos da Carta.

Isto requer uma mudança na mente e no coração. Requer um novo sentido de interdependência global e de responsabilidade universal. Devemos desenvolver e aplicar com imaginação a visão de um modo de vida sustentável aos níveis local, nacional, regional e global. Nossa diversidade cultural é uma herança preciosa, e diferentes culturas encontrarão suas próprias e distintas formas de realizar esta visão. Devemos aprofundar e expandir o diálogo global gerado pela Carta da Terra, porque temos muito que aprender a partir da busca iminente e conjunta por verdade e sabedoria.

A vida muitas vezes envolve tensões entre valores importantes. Isto pode significar escolhas difíceis. Porém, necessitamos encontrar caminhos para harmonizar a diversidade com a unidade, o exercício da liberdade com o bem comum, objetivos de curto prazo com metas de longo prazo. Todo indivíduo, família, organização e comunidade têm um papel vital a desempenhar. As artes, as ciências, as religiões, as instituições educativas, os meios de comunicação, as empresas, as organizações não-governamentais e os governos são todos chamados a oferecer uma liderança criativa. A parceria entre governo, sociedade civil e empresas é essencial para uma governabilidade efetiva.

Para construir uma comunidade global sustentável, as nações do mundo devem renovar seu compromisso com as Nações Unidas, cumprir com suas obrigações respeitando os acordos internacionais existentes e apoiar a implementação dos princípios da Carta da Terra com um instrumento internacional legalmente unificador quanto ao ambiente e ao desenvolvimento.

Que o nosso tempo seja lembrado pelo despertar de uma nova reverência face à vida, pelo compromisso firme de alcançar a sustentabilidade, a intensificação da luta pela justiça e pela paz, e a alegre celebração da vida.

Leonardo Boff.